VIVER É UMA ARTE!
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL DE AÇAILÂNDIA - MARANHÃO. LÍNGUA PORTUGUESA E ARTE
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Texto utilizado em formação. Esse texto encontra-se na íntegra no site da Revista Nova Escola
ESTADO DO MARANHÃO
PREFEITURA
MUNICIPAL DE AÇAILÂNDIA
SECRETARIA
MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE ORIENTAÇÃO E
SUPERVISÃO PEDAGÓGICA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO
CASA DO PROFESSOR
O percurso do desenho livre de estereótipos, texto adaptado, Anderson Moço, Revista Nova Escola, março de 2011.
“Para que os alunos percebam o valor de seus trabalhos e deixem de lado figuras-padrão, é preciso mostrar que não existe uma única forma de representar um objeto.” Anderson Moço, Revista Nova Escola, março de 2011.
Cena comum na maioria das turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental: quando convidados a desenhar, os alunos dizem que não sabem e algumas vezes até se recusam a começar a atividade. Quando desenham, acabam entregando trabalhos que apenas reproduzem modelos prontos: se traçam uma casa, por exemplo, eles todos usam a mesma forma. É difícil até descobrir qual desenho foi feito por quem.
Para compreender por que esse problema surge e é tão comum, é válido saber um pouco sobre como se desenvolve o percurso das crianças no desenho. A princípio, quando elas começam a fazer seus primeiros traços, as produções se parecem com o que se convencionou chamar de boneco girino, uma figura humana constituída por um círculo de onde sai um traço representando o tronco, dois riscos para os braços e outros dois para as pernas. Depois, entre 5 e 8 anos, essa imagem incorpora cada vez mais detalhes, conforme os pequenos refinam seu esquema corporal e ganham um repertório de imagens ao ver desenhos de sua cultura e dos próprios colegas. É nessa faixa etária também que elas começam a perceber o desenho como uma representação do real e se interessam em registrar no papel algo que seja reconhecido pelos outros. Ao mesmo tempo, a garotada está aprendendo a escrever e descobre que as letras querem dizer algo (e têm uma forma correta para transmitir a mensagem). É justamente aí que a turma começa a afirmar que não sabe como desenhar. Mas, afinal, por que isso ocorre? O fato pode ser resultado de comparação dos próprios desenhos com os dos colegas e também a percepção de haver uma distância entre suas intenções ao desenhar e a capacidade de realização. "É como se eles dissessem: 'Me ensine, por favor, porque eu preciso saber como representar exatamente o que estou pensando'", afirma Karen Amar, professora em São Paulo.
Essa frustração faz as crianças tentarem criar imagens perfeitas. Daí o primeiro motivos de eles reproduzirem estereótipos, repetindo padrões, como uma forma segura de se expressar. O segundo se dá pelo fato de grande parte das imagens com que os pequenos têm contato ser ilustrativa e passar mensagens claras. Ao folhear um livro, por exemplo, eles conseguem deduzir que parte da história é contada com ilustrações. Mas com suas próprias produções não costuma funcionar bem assim! Os adultos perguntam o que o desenho mostra antes mesmo de tentar entendê-lo. É possível ainda que o aluno tenha sofrido julgamentos negativos sobre suas atividades, ficando com sua confiança abalada para desenhar. Isso ocorre quando ele não contou com referências de alguém que valide ou oriente seus trabalhos.
E, afinal, o que é o desenho? É uma das expressões mais fortes e reconhecidas da cultura humana, um vasto campo de conhecimento. Ainda assim, o que é saber desenhar? É fazer alguém em proporção? É rabiscar? É reproduzir? Na verdade, é tudo isso: essa arte tem muitos campos de linguagem. O chargista, por exemplo, não necessariamente sabe como desenhar um quadro de paisagem. Fica claro então que cada autor desenvolve mais uma linguagem. Por isso, o mais importante é fazer as crianças experimentarem - e não necessariamente uma só técnica.
A didática da Arte consiste em
apreciar, produzir e refletir
"Mais que aprender a linguagem, os alunos precisam conhecê-la e se relacionar com ela. A escola não deve ensinar o desenho para eles, mas investir para que desenvolvam o próprio percurso", diz Fernando Chuí, professor do Colégio Arquidiocesano, em São Paulo, e doutorando em Educação, com foco na importância do erro para o ensino de Arte.
Há uma série
de códigos e de procedimentos com que os estudantes precisam entrar em contato
para compreender a linguagem do desenho. É preciso saber, por exemplo, que é
possível utilizar uma linha para distinguir uma figura do fundo. Como
representar movimento, luz e sombra ou uma mão, uma boca ou ainda o ambiente
interno de uma sala em perspectiva? Não basta apenas desenhar para aprender a
fazer isso. As respostas para essas questões são conquistadas por meio da
aprendizagem de saberes construídos por outros desenhistas e que serão
recriados pelo aluno, ou seja, por meio da apreciação. Ter contato com uma
variedade de artistas e suas produções, linguagens e técnicas é importante para
os pequenos.
A apreciação
garante modelos variados e dá elementos para que a garotada desenvolva seu
percurso criador - afinal, ninguém cria do nada: a criatividade está ligada aos
conhecimentos que temos. "As crianças precisam conhecer produções variadas
de adultos para poder se identificar. Às vezes, a temática dos desenhos é o que
as surpreende. Em outras, é a variedade de técnicas e materiais
utilizados", ressalta Chuí. Ao possibilitar à criança ter contato com a
linguagem, ela ganha repertório visual e com isso encontra sentido para suas
próprias produções. O importante é que ela perceba a variedade de
possibilidades e que cada artista desenha de um jeito.
Outra situação
fundamental para que as crianças percebam o valor dos próprios desenhos e
abandonem os estereótipos é propor a observação de objetos e paisagens. As
formas e cores presentes na natureza são muito variadas e isso pode ajudar a
expandir o conceito de representação. Não existe, por exemplo, apenas um tipo
de árvore ou de pedra. Observar essas variações (e algumas vezes tentar
reproduzir os detalhes vistos) é um aprendizado e tanto.
Por fim, os
estudantes também precisam produzir. Essa é a etapa seguinte à apreciação e à
observação. A turma tem de ser convidada a experimentar os procedimentos
utilizados pelos artistas. Não se trata de copiar. O objetivo é testar a
técnica e ver se gosta, analisar que espaços e formas foram criados e depois
fazer de novo. "Tentar sem a obrigatoriedade de ter um produto final
perfeito", recomenda Karen.
E seu papel,
professor, é validar a produção das crianças. Isso é possível encaminhando-as a
apreciar artistas renomados e mostrando como alguns deles até se espelharam em
produções feitas por gente pequena para criar suas obras.
Além disso,
enfatize sempre o quanto a linguagem do desenho é variada e oriente o percurso
da garotada, possibilitando o contato e a produção com diferentes técnicas e
modelos.
Nas aulas de
Arte é importante apresentar em sala diversos artistas - como Piet Mondrian
(1872-1944), Tarsila do Amaral (1886-1973), Van Gogh, Di Cavalcanti, Ismael
Nery, Portinari, dentre outros, que empregaram técnicas e linguagens diferentes
para representar um elemento próximo ao universo das crianças. Em outro
momento, propor a observação das variadas formas presentes na natureza (os
tipos de folhas, flores, galhos, caules, casas, animais, formas abstratas,
etc.) Depois, propor para a garotada a técnica do desenho de observação,
memória e de criação, variando as formas e as linguagens, utilizando o que
haviam conhecido em suas próprias produções.
Realizar um trabalho
que inclua essas três situações (apreciar, produzir e observar) permite que
cada aluno avance dentro de seus conhecimentos e de suas vontades enquanto
produtor de arte. Para alguns, os modelos são fundamentais, para outros, é a
prática. Outros ainda precisam observar e reproduzir. O fato é que só assim os
estudantes vão conseguir se aproximar dessa linguagem tão importante da nossa
cultura e se relacionar com ela de maneira autônoma.
O
conteúdo do 6º ao 9º ano
Para que os jovens percebam que desenhar bem
não é, necessariamente, fazer formas perfeitas, uma boa saída é propor o estudo
do desenrolar do percurso criativo de alguns nomes da arte moderna, como
Picasso e Mondrian. Ambos começaram com desenhos naturalistas e realistas e,
com o passar do tempo, desenvolveram uma linguagem própria, que os caracterizou
em definitivo. "Mondrian, hoje conhecido por trabalhar com formas
geométricas, surgiu na cena artística pintando paisagens e objetos
realistas", diz Maria José Spiteri, professora da Universidade Cruzeiro do
Sul (Unicsul) e da Universidade São Judas Tadeu.
Um mundo de imagens para ler
Ao desvendar o universo visual de seu cotidiano, o aluno vai conhecer melhor a si mesmo, compreender sua cultura e ampliá-la com a de outros tempos e lugares, Paola Gentile
Experimente contar quantas imagens você vê diariamente. São construções em diversos estilos, carros de vários modelos, pessoas vestidas cada uma a seu gosto. Há ainda a poluição visual das cidades, com propagandas e pichações, a televisão, a internet, as fotos de jornais e revistas... Alunos e alunas usam adereços nos cabelos e enfeitam cadernos com ilustrações de todo tipo. Muitas vezes isso passa despercebido e parece não ter sentido. Esses elementos visuais estão carregados de informações sobre nossa cultura e o mundo em que vivemos. Portanto, têm muito a ensinar.
A cultura visual - nome desse novo campo de estudo - propõe que as atividades ligadas à Arte passem a ir além de pinturas e esculturas, incorporando publicidade, objetos de uso cotidiano, moda, arquitetura, videoclipes e tantas representações visuais quantas o homem é capaz de produzir. Trata-se de levar o cotidiano para a sala de aula, explorando a experiência dos estudantes e sua realidade. Essa "alfabetização visual" dará ao aluno condições de conhecer melhor a sociedade em que vive, interpretar a cultura de sua época e tomar contato com a de outros povos. Mais: ele vai descobrir as próprias concepções e emoções ao apreciar uma imagem. "O professor tem de despertar o olhar curioso, para o aluno desvendar, interrogar e produzir alternativas frente às representações do universo visual", afirma Fernando Hernández, professor da Faculdade de Belas Artes de Barcelona, na Espanha.
Teoria
O arte-educador e pesquisador norte-americano
Elliot Eisner escreveu que o ensino se torna mais abrangente quando utiliza
representações visuais, pois elas permitem a aprendizagem de tudo o que os
textos escritos não conseguem revelar. Com base nisso, um grupo de
pesquisadores norte-americanos passou, nos anos 1990, a estudar a ligação
da Arte com a Antropologia. Ganhou o nome de cultura visual e hoje envolve
também Arquitetura, Sociologia, Psicologia, Filosofia, Estética, Semiótica,
Religião e História. Fernando Hernández é hoje um dos principais pesquisadores
do assunto. Ele destaca que estamos imersos numa avalanche de imagens e que é
preciso aprender a lê-las e interpretá-las para compreender e dar sentido ao
mundo em que vivemos. Assim, crianças e adolescentes serão capazes de analisar
os significados da imagem, os motivos que levaram à sua realização, como ela se
insere na cultura da época, como é consumida pela sociedade e as técnicas
utilizadas pelo autor. Na escola, isso significa que o ensino de Arte ganha uma
perspectiva mais profunda. De conhecedor de artistas e estilos, o aluno passar
a ser leitor, intérprete e crítico de todas as imagens presentes em seu
cotidiano.
Apreciar,
Contextualizar e Produzir...
O ponto de
partida para quem quer trabalhar a cultura visual é ficar atento no mundo à sua
volta. Conhecer os objetos que fazem parte da realidade dos alunos e perceber
quais são importantes para eles. E, claro, planejar as atividades conforme o
projeto pedagógico da escola. Ao escolher os temas de estudo, dê preferência às
imagens que façam sentido para os estudantes. Especialistas, como o espanhol
Fernando Hernández propõe alguns critérios: as representações devem ser
inquietantes, estar relacionadas com valores comuns a outras culturas, refletir
o anseio da comunidade, estar abertas a várias interpretações, ter sentido para
a vida das pessoas, expressar valores estéticos, fazer com que o espectador
pense, não apenas ser a expressão do narcisismo do artista, olhar para o futuro
e não estar obcecadas pela ideia de novidade. Outra especialista afirma ainda
que "Antes de apresentar determinada
imagem à turma, observe-a atentamente e pergunte a si mesmo quais as possibilidades de ensino que ela
oferece", (Teresinha Franz, professora de Arte e Design da
Universidade do Estado de Santa Catarina e da Fundação Catarinense de Cultura).
Na sala de aula, abra o leque de opções. Levante questões para toda a classe. É
provável que surjam outras abordagens, igualmente ricas para o aprendizado.
Se preferir
estudar um objeto, ressalte que aquela peça contém várias informações, pode
revelar novas culturas e estabelecer relações entre povos, lugares e tempos.
Mirian Celeste Martins, professora do Instituto de Arte da Universidade
Estadual Paulista e do Espaço Pedagógico, sugere criar uma expectativa na turma
"lançando questões provocativas ou apresentando representações diversas do
tema que será trabalhado". Uma página de publicidade de revista pode levar
a um passeio pelos quatro cantos do planeta, outra opção é a visita virtual em
Museus do mundo inteiro. Um bom jeito de trabalhar é pedir que cada aluno monte
uma pasta, tipo portfólio, para registrar os passos das atividades, do projeto
- as impressões sobre cada tarefa são essenciais. No início todos podem
escrever uma redação ou um relatório contando o que já sabem sobre o tema. Ao
longo das aulas, comentários devem acompanhar a produção diária (que podem ser
desenhos, textos, esculturas...). No final os alunos podem comparar o que
sabiam no início do trabalho com o que aprenderam. Você também vai ter uma
visão geral do aprendizado na hora de avaliar.
Imagens efêmere
As imagens em movimento (televisão,
videoclipe, videogame, internet, cinema etc.) são chamadas de
"efêmeras". Por isso, devem ser trabalhadas de maneira especial na
escola. Gisa Picosque, especialista em Artes Cênicas e consultora de cursos de formação
de professores, sugere que o professor analise e interprete as informações que
os alunos memorizaram. Essa seleção mental já revela muito. "É um momento
rico para conhecer os estudantes - e eles a si mesmos - por meio das sensações
que as imagens provocaram", ressalta. Cabe ao professor conhecer os
filmes, programas, sites e jogos preferidos dos jovens - e levá-los a abandonar
a posição de espectadores passivos. Pergunte sobre as emoções e sensações
provocadas; com quais personagens ou situações a garotada se identifica (e
quais provocam estranhamento). Que objetos, personagens e situações são mais
marcantes? Por quê? Em seguida organize as respostas, localize essa produção
visual no tempo e no espaço e oriente a classe a realizar as pesquisas
necessárias.
O visual da escola
Os estudos
sobre cultura visual mostram que as imagens presentes em nosso cotidiano são
fundamentais na formação de uma cultura crítica nas crianças e nos jovens. Como
a escola é, desde cedo, um dos principais espaços frequentados por eles, ela
ajuda (ou atrapalha) no processo de alfabetização visual. Por isso, antes de
colar algo na parede de sala, pense: o que esse desenho, foto, mural ou cartaz
vai representar para meus alunos? "O educador precisa evitar oferecer aos
estudantes um espaço carregado de significados preestabelecidos", afirma
Fernando Hernández.
O alerta vale
principalmente para as classes de Educação Infantil. A pretexto de oferecer um
ambiente "familiar", é comum ver as salas decoradas com personagens
de histórias infantis e de desenhos animados. Os especialistas garantem que
isso só ajuda a cristalizar estereótipos nos pequenos - e não auxilia em nada
no trabalho de educar o olhar. "O ideal é que os espaços sejam preenchidos
com representações criadas pelas próprias crianças", diz Irene Tourinho,
vice-coordenadora do curso de pós-gradução em Cultura Visual da
Universidade Federal de Goiás. Uma
ideia: professores e alunos podem levar objetos importantes para eles
(brinquedos, objetos de uso pessoal ou da decoração de casa etc.) e montar uma
exposição para que todos observem e troquem informações sobre a importância de
cada peça para seu dono, um trabalho ao mesmo tempo único e enriquecedor.
Roteiro para o olhar
O pesquisador norte-americano
Robert William Ott, da Penn State University, criou o seguinte roteiro para
treinar o olhar sobre obras de arte, mas ele pode ser adaptado a atividades
ligadas à cultura visual. O diferencial é fazer sempre a relação com a
realidade do aluno:
1)
Descrever
Para aproveitar tudo o que
uma imagem pode oferecer, os olhos precisam percorrer o objeto de estudo com
atenção. Dê um tempo para a obra se "hospedar" no cérebro. Em sala de
aula, peça que todos descrevam o que veem e elaborem um inventário.
2)
Analisar
É hora de perceber os
detalhes. As perguntas feitas pelo professor devem ter por objetivo estimular o
aluno a prestar atenção na linguagem visual, com seus elementos, texturas,
dimensões, materiais, suportes e técnicas.
3)
Interpretar
Um turbilhão de ideias vai
invadir a classe e você precisa estar atento a todas elas, para aproveitar as
diversas possibilidades pedagógicas. Liste-as e eleja com a turma as que correspondam
aos objetivos de ensino. Meninos e meninas devem ter espaço para expressar as
próprias interpretações, bem como sentimentos e emoções. Mostre outras
manifestações visuais que tratem do mesmo tema e estimule-os a fazer
comparações (cores, formas, linhas, organização espacial etc.).
4)
Fundamentar
Levantadas as questões que
balizarão o trabalho, é tarefa dos estudantes buscar respostas. Elabore junto
com eles uma lista com os aspectos que provocam curiosidade sobre a obra, o
autor, o processo de criação, a época etc. Ofereça textos de diversas áreas do
conhecimento para pesquisa e indique bibliografia e sites para consulta,
selecionando os textos de acordo com os interesses e o nível de conhecimento da
classe.
5)
Revelar Com
tantas novidades e aprendizados, a turma certamente estará estimulada a
produzir. Discuta com todos como gostariam de expor as ideias que agora têm.
Quais são essas idéias e como comunicá-las? É hora criar, desenhar, escrever,
fazer esculturas, colagens...
REFERÊNCIAS
O
Desenho Cultivado da Criança, Rosa Iavelberg, Ed. Zouk
Para
Gostar de Aprender Arte, Rosa Iavelberg, Ed. Artmed
Revista
Nova Escola, março, 2011
Teoria
e Prática do Ensino de Arte, Mirian
Celeste Martins, PNLD, 2010, Editora FTD.
Texto utilizado em formação. Esse texto encontra-se na íntegra no site da Revista Nova Escola
ESTADO DO MARANHÃO
PREFEITURA
MUNICIPAL DE AÇAILÂNDIA
SECRETARIA
MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE ORIENTAÇÃO E
SUPERVISÃO PEDAGÓGICA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO
CASA DO PROFESSOR
O percurso do desenho livre de estereótipos, texto adaptado, Anderson Moço, Revista Nova Escola, março de 2011.
“Para que os alunos percebam o valor de seus trabalhos e deixem de lado figuras-padrão, é preciso mostrar que não existe uma única forma de representar um objeto.” Anderson Moço, Revista Nova Escola, março de 2011.
Cena comum na maioria das turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental: quando convidados a desenhar, os alunos dizem que não sabem e algumas vezes até se recusam a começar a atividade. Quando desenham, acabam entregando trabalhos que apenas reproduzem modelos prontos: se traçam uma casa, por exemplo, eles todos usam a mesma forma. É difícil até descobrir qual desenho foi feito por quem.
Para compreender por que esse problema surge e é tão comum, é válido saber um pouco sobre como se desenvolve o percurso das crianças no desenho. A princípio, quando elas começam a fazer seus primeiros traços, as produções se parecem com o que se convencionou chamar de boneco girino, uma figura humana constituída por um círculo de onde sai um traço representando o tronco, dois riscos para os braços e outros dois para as pernas. Depois, entre 5 e 8 anos, essa imagem incorpora cada vez mais detalhes, conforme os pequenos refinam seu esquema corporal e ganham um repertório de imagens ao ver desenhos de sua cultura e dos próprios colegas. É nessa faixa etária também que elas começam a perceber o desenho como uma representação do real e se interessam em registrar no papel algo que seja reconhecido pelos outros. Ao mesmo tempo, a garotada está aprendendo a escrever e descobre que as letras querem dizer algo (e têm uma forma correta para transmitir a mensagem). É justamente aí que a turma começa a afirmar que não sabe como desenhar. Mas, afinal, por que isso ocorre? O fato pode ser resultado de comparação dos próprios desenhos com os dos colegas e também a percepção de haver uma distância entre suas intenções ao desenhar e a capacidade de realização. "É como se eles dissessem: 'Me ensine, por favor, porque eu preciso saber como representar exatamente o que estou pensando'", afirma Karen Amar, professora em São Paulo.
Essa frustração faz as crianças tentarem criar imagens perfeitas. Daí o primeiro motivos de eles reproduzirem estereótipos, repetindo padrões, como uma forma segura de se expressar. O segundo se dá pelo fato de grande parte das imagens com que os pequenos têm contato ser ilustrativa e passar mensagens claras. Ao folhear um livro, por exemplo, eles conseguem deduzir que parte da história é contada com ilustrações. Mas com suas próprias produções não costuma funcionar bem assim! Os adultos perguntam o que o desenho mostra antes mesmo de tentar entendê-lo. É possível ainda que o aluno tenha sofrido julgamentos negativos sobre suas atividades, ficando com sua confiança abalada para desenhar. Isso ocorre quando ele não contou com referências de alguém que valide ou oriente seus trabalhos.
E, afinal, o que é o desenho? É uma das expressões mais fortes e reconhecidas da cultura humana, um vasto campo de conhecimento. Ainda assim, o que é saber desenhar? É fazer alguém em proporção? É rabiscar? É reproduzir? Na verdade, é tudo isso: essa arte tem muitos campos de linguagem. O chargista, por exemplo, não necessariamente sabe como desenhar um quadro de paisagem. Fica claro então que cada autor desenvolve mais uma linguagem. Por isso, o mais importante é fazer as crianças experimentarem - e não necessariamente uma só técnica.
A didática da Arte consiste em
apreciar, produzir e refletir
"Mais que aprender a linguagem, os alunos precisam conhecê-la e se relacionar com ela. A escola não deve ensinar o desenho para eles, mas investir para que desenvolvam o próprio percurso", diz Fernando Chuí, professor do Colégio Arquidiocesano, em São Paulo, e doutorando em Educação, com foco na importância do erro para o ensino de Arte.
Há uma série
de códigos e de procedimentos com que os estudantes precisam entrar em contato
para compreender a linguagem do desenho. É preciso saber, por exemplo, que é
possível utilizar uma linha para distinguir uma figura do fundo. Como
representar movimento, luz e sombra ou uma mão, uma boca ou ainda o ambiente
interno de uma sala em perspectiva? Não basta apenas desenhar para aprender a
fazer isso. As respostas para essas questões são conquistadas por meio da
aprendizagem de saberes construídos por outros desenhistas e que serão
recriados pelo aluno, ou seja, por meio da apreciação. Ter contato com uma
variedade de artistas e suas produções, linguagens e técnicas é importante para
os pequenos.
A apreciação
garante modelos variados e dá elementos para que a garotada desenvolva seu
percurso criador - afinal, ninguém cria do nada: a criatividade está ligada aos
conhecimentos que temos. "As crianças precisam conhecer produções variadas
de adultos para poder se identificar. Às vezes, a temática dos desenhos é o que
as surpreende. Em outras, é a variedade de técnicas e materiais
utilizados", ressalta Chuí. Ao possibilitar à criança ter contato com a
linguagem, ela ganha repertório visual e com isso encontra sentido para suas
próprias produções. O importante é que ela perceba a variedade de
possibilidades e que cada artista desenha de um jeito.
Outra situação
fundamental para que as crianças percebam o valor dos próprios desenhos e
abandonem os estereótipos é propor a observação de objetos e paisagens. As
formas e cores presentes na natureza são muito variadas e isso pode ajudar a
expandir o conceito de representação. Não existe, por exemplo, apenas um tipo
de árvore ou de pedra. Observar essas variações (e algumas vezes tentar
reproduzir os detalhes vistos) é um aprendizado e tanto.
Por fim, os
estudantes também precisam produzir. Essa é a etapa seguinte à apreciação e à
observação. A turma tem de ser convidada a experimentar os procedimentos
utilizados pelos artistas. Não se trata de copiar. O objetivo é testar a
técnica e ver se gosta, analisar que espaços e formas foram criados e depois
fazer de novo. "Tentar sem a obrigatoriedade de ter um produto final
perfeito", recomenda Karen.
E seu papel,
professor, é validar a produção das crianças. Isso é possível encaminhando-as a
apreciar artistas renomados e mostrando como alguns deles até se espelharam em
produções feitas por gente pequena para criar suas obras.
Além disso,
enfatize sempre o quanto a linguagem do desenho é variada e oriente o percurso
da garotada, possibilitando o contato e a produção com diferentes técnicas e
modelos.
Nas aulas de
Arte é importante apresentar em sala diversos artistas - como Piet Mondrian
(1872-1944), Tarsila do Amaral (1886-1973), Van Gogh, Di Cavalcanti, Ismael
Nery, Portinari, dentre outros, que empregaram técnicas e linguagens diferentes
para representar um elemento próximo ao universo das crianças. Em outro
momento, propor a observação das variadas formas presentes na natureza (os
tipos de folhas, flores, galhos, caules, casas, animais, formas abstratas,
etc.) Depois, propor para a garotada a técnica do desenho de observação,
memória e de criação, variando as formas e as linguagens, utilizando o que
haviam conhecido em suas próprias produções.
Realizar um trabalho
que inclua essas três situações (apreciar, produzir e observar) permite que
cada aluno avance dentro de seus conhecimentos e de suas vontades enquanto
produtor de arte. Para alguns, os modelos são fundamentais, para outros, é a
prática. Outros ainda precisam observar e reproduzir. O fato é que só assim os
estudantes vão conseguir se aproximar dessa linguagem tão importante da nossa
cultura e se relacionar com ela de maneira autônoma.
O
conteúdo do 6º ao 9º ano
Para que os jovens percebam que desenhar bem
não é, necessariamente, fazer formas perfeitas, uma boa saída é propor o estudo
do desenrolar do percurso criativo de alguns nomes da arte moderna, como
Picasso e Mondrian. Ambos começaram com desenhos naturalistas e realistas e,
com o passar do tempo, desenvolveram uma linguagem própria, que os caracterizou
em definitivo. "Mondrian, hoje conhecido por trabalhar com formas
geométricas, surgiu na cena artística pintando paisagens e objetos
realistas", diz Maria José Spiteri, professora da Universidade Cruzeiro do
Sul (Unicsul) e da Universidade São Judas Tadeu.
Um mundo de imagens para ler
Ao desvendar o universo visual de seu cotidiano, o aluno vai conhecer melhor a si mesmo, compreender sua cultura e ampliá-la com a de outros tempos e lugares, Paola Gentile
Experimente contar quantas imagens você vê diariamente. São construções em diversos estilos, carros de vários modelos, pessoas vestidas cada uma a seu gosto. Há ainda a poluição visual das cidades, com propagandas e pichações, a televisão, a internet, as fotos de jornais e revistas... Alunos e alunas usam adereços nos cabelos e enfeitam cadernos com ilustrações de todo tipo. Muitas vezes isso passa despercebido e parece não ter sentido. Esses elementos visuais estão carregados de informações sobre nossa cultura e o mundo em que vivemos. Portanto, têm muito a ensinar.
A cultura visual - nome desse novo campo de estudo - propõe que as atividades ligadas à Arte passem a ir além de pinturas e esculturas, incorporando publicidade, objetos de uso cotidiano, moda, arquitetura, videoclipes e tantas representações visuais quantas o homem é capaz de produzir. Trata-se de levar o cotidiano para a sala de aula, explorando a experiência dos estudantes e sua realidade. Essa "alfabetização visual" dará ao aluno condições de conhecer melhor a sociedade em que vive, interpretar a cultura de sua época e tomar contato com a de outros povos. Mais: ele vai descobrir as próprias concepções e emoções ao apreciar uma imagem. "O professor tem de despertar o olhar curioso, para o aluno desvendar, interrogar e produzir alternativas frente às representações do universo visual", afirma Fernando Hernández, professor da Faculdade de Belas Artes de Barcelona, na Espanha.
Teoria
O arte-educador e pesquisador norte-americano
Elliot Eisner escreveu que o ensino se torna mais abrangente quando utiliza
representações visuais, pois elas permitem a aprendizagem de tudo o que os
textos escritos não conseguem revelar. Com base nisso, um grupo de
pesquisadores norte-americanos passou, nos anos 1990, a estudar a ligação
da Arte com a Antropologia. Ganhou o nome de cultura visual e hoje envolve
também Arquitetura, Sociologia, Psicologia, Filosofia, Estética, Semiótica,
Religião e História. Fernando Hernández é hoje um dos principais pesquisadores
do assunto. Ele destaca que estamos imersos numa avalanche de imagens e que é
preciso aprender a lê-las e interpretá-las para compreender e dar sentido ao
mundo em que vivemos. Assim, crianças e adolescentes serão capazes de analisar
os significados da imagem, os motivos que levaram à sua realização, como ela se
insere na cultura da época, como é consumida pela sociedade e as técnicas
utilizadas pelo autor. Na escola, isso significa que o ensino de Arte ganha uma
perspectiva mais profunda. De conhecedor de artistas e estilos, o aluno passar
a ser leitor, intérprete e crítico de todas as imagens presentes em seu
cotidiano.
Apreciar,
Contextualizar e Produzir...
O ponto de
partida para quem quer trabalhar a cultura visual é ficar atento no mundo à sua
volta. Conhecer os objetos que fazem parte da realidade dos alunos e perceber
quais são importantes para eles. E, claro, planejar as atividades conforme o
projeto pedagógico da escola. Ao escolher os temas de estudo, dê preferência às
imagens que façam sentido para os estudantes. Especialistas, como o espanhol
Fernando Hernández propõe alguns critérios: as representações devem ser
inquietantes, estar relacionadas com valores comuns a outras culturas, refletir
o anseio da comunidade, estar abertas a várias interpretações, ter sentido para
a vida das pessoas, expressar valores estéticos, fazer com que o espectador
pense, não apenas ser a expressão do narcisismo do artista, olhar para o futuro
e não estar obcecadas pela ideia de novidade. Outra especialista afirma ainda
que "Antes de apresentar determinada
imagem à turma, observe-a atentamente e pergunte a si mesmo quais as possibilidades de ensino que ela
oferece", (Teresinha Franz, professora de Arte e Design da
Universidade do Estado de Santa Catarina e da Fundação Catarinense de Cultura).
Na sala de aula, abra o leque de opções. Levante questões para toda a classe. É
provável que surjam outras abordagens, igualmente ricas para o aprendizado.
Se preferir
estudar um objeto, ressalte que aquela peça contém várias informações, pode
revelar novas culturas e estabelecer relações entre povos, lugares e tempos.
Mirian Celeste Martins, professora do Instituto de Arte da Universidade
Estadual Paulista e do Espaço Pedagógico, sugere criar uma expectativa na turma
"lançando questões provocativas ou apresentando representações diversas do
tema que será trabalhado". Uma página de publicidade de revista pode levar
a um passeio pelos quatro cantos do planeta, outra opção é a visita virtual em
Museus do mundo inteiro. Um bom jeito de trabalhar é pedir que cada aluno monte
uma pasta, tipo portfólio, para registrar os passos das atividades, do projeto
- as impressões sobre cada tarefa são essenciais. No início todos podem
escrever uma redação ou um relatório contando o que já sabem sobre o tema. Ao
longo das aulas, comentários devem acompanhar a produção diária (que podem ser
desenhos, textos, esculturas...). No final os alunos podem comparar o que
sabiam no início do trabalho com o que aprenderam. Você também vai ter uma
visão geral do aprendizado na hora de avaliar.
Imagens efêmere
As imagens em movimento (televisão,
videoclipe, videogame, internet, cinema etc.) são chamadas de
"efêmeras". Por isso, devem ser trabalhadas de maneira especial na
escola. Gisa Picosque, especialista em Artes Cênicas e consultora de cursos de formação
de professores, sugere que o professor analise e interprete as informações que
os alunos memorizaram. Essa seleção mental já revela muito. "É um momento
rico para conhecer os estudantes - e eles a si mesmos - por meio das sensações
que as imagens provocaram", ressalta. Cabe ao professor conhecer os
filmes, programas, sites e jogos preferidos dos jovens - e levá-los a abandonar
a posição de espectadores passivos. Pergunte sobre as emoções e sensações
provocadas; com quais personagens ou situações a garotada se identifica (e
quais provocam estranhamento). Que objetos, personagens e situações são mais
marcantes? Por quê? Em seguida organize as respostas, localize essa produção
visual no tempo e no espaço e oriente a classe a realizar as pesquisas
necessárias.
O visual da escola
Os estudos
sobre cultura visual mostram que as imagens presentes em nosso cotidiano são
fundamentais na formação de uma cultura crítica nas crianças e nos jovens. Como
a escola é, desde cedo, um dos principais espaços frequentados por eles, ela
ajuda (ou atrapalha) no processo de alfabetização visual. Por isso, antes de
colar algo na parede de sala, pense: o que esse desenho, foto, mural ou cartaz
vai representar para meus alunos? "O educador precisa evitar oferecer aos
estudantes um espaço carregado de significados preestabelecidos", afirma
Fernando Hernández.
O alerta vale
principalmente para as classes de Educação Infantil. A pretexto de oferecer um
ambiente "familiar", é comum ver as salas decoradas com personagens
de histórias infantis e de desenhos animados. Os especialistas garantem que
isso só ajuda a cristalizar estereótipos nos pequenos - e não auxilia em nada
no trabalho de educar o olhar. "O ideal é que os espaços sejam preenchidos
com representações criadas pelas próprias crianças", diz Irene Tourinho,
vice-coordenadora do curso de pós-gradução em Cultura Visual da
Universidade Federal de Goiás. Uma
ideia: professores e alunos podem levar objetos importantes para eles
(brinquedos, objetos de uso pessoal ou da decoração de casa etc.) e montar uma
exposição para que todos observem e troquem informações sobre a importância de
cada peça para seu dono, um trabalho ao mesmo tempo único e enriquecedor.
Roteiro para o olhar
O pesquisador norte-americano
Robert William Ott, da Penn State University, criou o seguinte roteiro para
treinar o olhar sobre obras de arte, mas ele pode ser adaptado a atividades
ligadas à cultura visual. O diferencial é fazer sempre a relação com a
realidade do aluno:
1)
Descrever
Para aproveitar tudo o que
uma imagem pode oferecer, os olhos precisam percorrer o objeto de estudo com
atenção. Dê um tempo para a obra se "hospedar" no cérebro. Em sala de
aula, peça que todos descrevam o que veem e elaborem um inventário.
2)
Analisar
É hora de perceber os
detalhes. As perguntas feitas pelo professor devem ter por objetivo estimular o
aluno a prestar atenção na linguagem visual, com seus elementos, texturas,
dimensões, materiais, suportes e técnicas.
3)
Interpretar
Um turbilhão de ideias vai
invadir a classe e você precisa estar atento a todas elas, para aproveitar as
diversas possibilidades pedagógicas. Liste-as e eleja com a turma as que correspondam
aos objetivos de ensino. Meninos e meninas devem ter espaço para expressar as
próprias interpretações, bem como sentimentos e emoções. Mostre outras
manifestações visuais que tratem do mesmo tema e estimule-os a fazer
comparações (cores, formas, linhas, organização espacial etc.).
4)
Fundamentar
Levantadas as questões que
balizarão o trabalho, é tarefa dos estudantes buscar respostas. Elabore junto
com eles uma lista com os aspectos que provocam curiosidade sobre a obra, o
autor, o processo de criação, a época etc. Ofereça textos de diversas áreas do
conhecimento para pesquisa e indique bibliografia e sites para consulta,
selecionando os textos de acordo com os interesses e o nível de conhecimento da
classe.
5)
Revelar Com
tantas novidades e aprendizados, a turma certamente estará estimulada a
produzir. Discuta com todos como gostariam de expor as ideias que agora têm.
Quais são essas idéias e como comunicá-las? É hora criar, desenhar, escrever,
fazer esculturas, colagens...
REFERÊNCIAS
O
Desenho Cultivado da Criança, Rosa Iavelberg, Ed. Zouk
Para
Gostar de Aprender Arte, Rosa Iavelberg, Ed. Artmed
Revista
Nova Escola, março, 2011
Teoria
e Prática do Ensino de Arte, Mirian
Celeste Martins, PNLD, 2010, Editora FTD.
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